Jardins com Histórias

Jardins da Madeira. As suas flores, as suas histórias.

jardim da quinta das cruzes


Breve Resenha Histórica

A Quinta das Cruzes localiza-se no núcleo histórico de São Pedro, entre o Convento de Santa Clara e a Fortaleza do Pico.

“A denominação das Cruzes, permanece incerta no tempo, ligando-se às primeiras casas de João Gonçalves Zarco, 1.º Capitão Donatário do Funchal, entre 1425-1467.

A família dos primeiros capitães donatários possuía, nesta zona, grandes extensões de terreno, que se estendiam de São Paulo até ao Pico. Uma provável moradia modesta, começada a edificar por João Gonçalves Zarco, foi ampliada por seu filho, João Gonçalves da Câmara, aproveitando para tal os mestres que ali perto trabalhavam, na construção do Convento de Santa Clara do Funchal, junto à antiga Capela da Conceição de Cima.

A Casa das Cruzes foi, ao longo dos séculos, sofrendo alterações importantes, transformando-se, no século XVIII, numa emblemática Quinta Madeirense. No corpo principal da casa podem ainda hoje ser observadas janelas (duas das quais correspondiam a antigas portadas), de recorte manuelino, com a presença de arcos contracurvados em cantaria basáltica da Ilha.

A capela da Quinta das Cruzes, da evocação de Nossa Senhora da Piedade, está datada de 1692, recordando o momento em que a Quinta passou à família Lomelino.

Este espaço foi adquirido pelo Estado, para Museu em 1946, com a ideia de ali se instalarem as colecções do seu primeiro doador, Filipe César Gomes. Às colecções iniciais juntaram-se as de João Wetzler e de outros, assim como várias aquisições do Estado.” (CLODE SOUSA, s.d.).

Presentemente a Quinta das Cruzes é património da Região Autónoma da Madeira. O museu, que possui colecções de ourivesaria, joalharia, cerâmica, pintura e mobiliário especialmente de origem portuguesa e inglesa, é administrado pela Secretaria do Turismo e Cultura, enquanto o jardim depende da Secretaria do Ambiente e Recursos Naturais.

Planta da Quinta das Cruzes
cartografia de Eugénio Santos

 

No jardim, para além da rica colecção de árvores, arbustos e orquídeas, há um interessante núcleo arqueológico onde se pode ver parte do primitivo pelourinho do Funchal (princípio do século XVI), pedras tumulares, uma antiga pedra de armas da cidade e duas janelas manuelinas em cantaria basáltica.

O jardim caracteriza-se pela existência de passeios amplos que se cruzam perpendicularmente, separando relvados com árvores e arbustos distribuídos de forma assimétrica. Excepções a esta morfologia dominante, são os espaços 1, 9 e 20 (ver planta).

No espaço 1 os pequeninos canteiros estão organizados com precisão geométrica em torno dum laguinho circular. Aqui, e em todo o jardim, os passeios são calcetados com seixos minúsculos. O espaço 9 corresponde ao orquidário e apresenta uma cobertura que permite um ambiente de meia sombra. O espaço 20 funciona como pequeno viveiro e espaço para armazenar terras e equipamentos.


Raimundo Quintal, in “Quintas, Parques e Jardins do Funchal: Estudo Fitogeográfico”, págs. 227 e 228, Esfera do Caos Editores, Novembro de 2007.